MULHERES QUE TRANSFORMAM - Entrevista com Iasmin Viana, estudante de psicologia, pesquisadora e escritora

Para encerrar a coluna do mês de março, o Regiona SE traz a escritora e estudante de Psicologia Yasmin Viana. Autora de Decidi Ser!, ela compartilha sua trajetória na literatura, os desafios das mulheres no mercado literário e a importância do Mês da Mulher como símbolo de resistência.
Para Iasmim, romper barreiras na literatura exige mais que talento: exige persistência. Ela reforça a importância de ampliar espaços de fala e incentiva mulheres a escreverem sem medo. Mesmo sem planos concretos para um novo livro, garante que a escrita sempre fará parte de sua vida – seja na poesia ou na produção acadêmica. Confira a entrevista completa.
Redação: Quem é Iasmin Viana?
Iasmin Viana: Quão intrigante é começar respondendo quem sou! "Que é ser? É ter um corpo, um jeito, um nome? Tenho os três. E sou? [...] É terrível, ser? Dói? É bom? É triste? Ser; pronunciado tão depressa, e cabe tantas coisas?". Poesias à parte, acredito que, aqui, o mais importante a dizer é que sou escritora. Mas também: sou estudante de Psicologia na Universidade Federal de Sergipe, sou uma jovem vivendo a crise dos vinte e poucos anos, sou pesquisadora, sou leitora assídua de histórias de ficção, sou lagartense, sou...
Redação: O que te inspirou a escrever "Decidi Ser!" e como essa obra reflete a sua jornada pessoal?
Iasmin Viana: "Decidi Ser!" é, na verdade, um compilado de anos de escrita. Por muito tempo publiquei em uma conta do Instagram textos e poemas que escrevia por hobby, até a chegada da pandemia. Acredito que não foi uma época fácil para ninguém e, durante esse período, deixei de escrever como antes fazia – algo que era prazeroso se tornou quase um sacrifício. Foi aí que, ao invés de escrever novos conteúdos, comecei a revisitar, revisar e compilar o que já tinha escrito.
Tive a felicidade de contar com a ajuda de uma revisora incrível, que conheci por meio de uma página no Instagram voltada a apoiar autores independentes, e com a colaboração de uma grande amiga, que produziu a capa do livro para mim. Assim, "Decidi Ser!" se tornou um registro de anos de vivência, sentimentos e histórias ouvidas e transpostas para o papel. Como publiquei aos 18 anos, os textos foram escritos entre meus 15 e 17 anos. Hoje, aos 22, reler essas palavras é como revisitar uma versão mais jovem de mim mesma, com ideias e percepções que, por vezes, ainda me surpreendem.
Redação:Quais desafios para a mulher no mercado literário?
Iasmin Viana: De início, acredito que não posso dizer que cheguei a me inserir nesse mercado. Uma questão muito característica da época em que publiquei o livro foi o isolamento, então a divulgação ocorreu unicamente por meio de redes sociais. Naquele período, vi muita gente jovem publicar de modo independente na Amazon, talvez por conta do cenário nacional, e muitos escritores nasceram e se desenvolveram. De modo pessoal, um dos desafios que vejo no mundo literário é a dificuldade de reconhecimento, no sentido de que reconheçam aquele conteúdo como dotado de algum valor. O mundo artístico acaba sofrendo com esse peso da "utilidade" que vem sendo tão difundido em todas as áreas de nossas vidas. Todo hobby tem que ser rentável, mensurável ou um passo de um projeto maior, enquanto a arte é justamente a expressão de algo genuíno. "A vida não é útil", como bem pontuou Ailton Krenak. Então esse aspecto se torna ainda mais chamativo quando são mulheres, ainda mais jovens, expressando sentimentos. Ainda há certa expectativa sobre o tipo de conteúdo que mulheres devem escrever; é um estereótipo que gera um peso, sendo ele seguido ou não. O mercado literário ainda carrega resquícios de um histórico que favoreceu escritores homens, e romper essas barreiras exige muito mais que talento: exige persistência.
Redação: O que o Mês da Mulher representa para você?
Iasmin Viana: O Mês da Mulher é um lembrete da luta que nos trouxe até aqui e daquilo que ainda precisamos conquistar. Como disse Beauvoir: não se nasce mulher, torna-se mulher. Somos produtos e produtoras de uma época, então mais do que um dia de flores ou meramente simbólico, é um mês que representa resistência e reconhecimento. É um convite à reflexão sobre as condições de vida que temos e que desejamos ter. Uma oportunidade de relembrar a história de mulheres que abriram caminho para que eu pudesse estar aqui, escrevendo e sendo lida, bem como para sonhar e planejar o mundo onde novas escritoras viverão.
Redação: Que mudanças ainda precisam acontecer para que as mulheres tenham mais espaço e reconhecimento na literatura e em outras áreas?
Iasmin Viana: Acho que o primeiro passo é a desconstrução de expectativas limitantes: mulheres podem escrever sobre o que quiserem, como quiserem, e devem ser lidas e reconhecidas por isso. É preciso continuar ampliando espaços de fala e representatividade. Isto é, é preciso que existam oportunidades reais para que meninas e mulheres possam expressar sua arte e seu trabalho, seja em forma de dança, textos ou artigos científicos. E por reais me refiro à necessidade de diminuir barreiras que, por vezes, passam despercebidas – é preciso questionar porque as coisas são como elas são e parar de normalizar uma estrutura essencialmente patriarcal.
Redação: Que conselho você daria para mulheres que sonham em se tornar escritoras?
Iasmin Viana: Escrevam. Escrevam mesmo que sintam que não é bom o suficiente, mesmo que pensem que ninguém vai ler. Escrevam sem esperar o momento perfeito ou a inspiração ideal. Se escrever é o que você quer, então isso já faz parte de quem você é. O reconhecimento pode vir com o tempo, mas o mais importante é que a sua voz exista.
Redação: Planos para o futuro: pretende continuar escrevendo?
Iasmin Viana: Recentemente li um poema que me marcou bastante. O autor, Rick Rubin, começa dizendo: "viver como um artista é uma prática" e finaliza: "tendemos a pensar a obra do artista como um produto. A obra real do artista é um modo de estar no mundo". Esses versos já foram alvo de muitos pensamentos, porque recentemente venho tentando escrever de forma mais livre e expressiva, porém privada. Acredito, como apontado pelo autor, que jamais conseguirei me desassociar da escrita – por ser parte de mim. Outra questão é que, apesar de ter deixado de lado a escrita poética depois da pandemia, a escrita acadêmica se fortaleceu bastante. Inúmeros artigos, textos e resenhas foram escritos enquanto a paixão pela escrita artística estava adormecida. Então, respondendo à pergunta mais diretamente, não tenho planos reais de escrever um livro ou voltar a ser tão ativa no Instagram, mas a poesia sempre será uma parte de mim – e vai surgir em meus momentos privados de liberdade. Daqui para frente, visualizo mais textos acadêmicos.
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